A ideia de um “carro voador no Brasil” deixou de ser apenas fantasia e tornou-se nos últimos anos um campo real de pesquisa, investimento e testes.
No Brasil, o conceito está sendo conduzido principalmente por projetos de eVTOL (electric Vertical Take-Off and Landing) — aeronaves elétricas de decolagem e pouso vertical — que prometem levar passageiros entre pontos urbanos em minutos, em vez de horas no trânsito.
Esse artigo explica o estado atual da tecnologia no país, a regulação que vem sendo desenhada, as empresas envolvidas, a infraestrutura necessária, impactos sociais e econômicos, além dos principais desafios para a popularização do serviço.
O que é um eVTOL e por que é diferente de um helicóptero?

Os eVTOLs são aeronaves elétricas (ou híbridas-elétricas) projetadas para decolar e pousar verticalmente. Ao contrário do helicóptero convencional, eles tendem a usar múltiplos rotores ou um conjunto de rotores elétricos distribuídos, projetados para reduzir ruído e aumentar segurança por redundância.
A propulsão elétrica também permite operações com menor emissão de carbono e manutenção potencialmente mais simples que motores a combustão. O uso urbano exige sistemas de controle de tráfego aéreo (Urban Air Traffic Management) e vertiportos com infraestrutura adequada.
Principais avanços e atores no desenvolvimento do carro voador no Brasil
A fabricante brasileira Embraer, por meio da sua subsidiária Eve Air Mobility, é hoje o nome mais associado ao desenvolvimento de eVTOLs no país.
A Eve foi criada para acelerar soluções de mobilidade aérea urbana e desenvolve tanto o veículo quanto serviços de suporte, treinamento e sistemas de gestão de tráfego aéreo urbano. A empresa tem divulgado cronogramas de protótipos, parcerias e linhas de financiamento para acelerar o desenvolvimento.
Em 2024 e 2025 houve anúncios e movimentações relevantes: construção de protótipos em instalações brasileiras, voos experimentais e financiamentos públicos e privados voltados para o desenvolvimento e certificação da aeronave.
Relatos da imprensa e comunicados oficiais indicam que peças importantes do ecossistema — desde prototipagem em Gavião Peixoto até linhas de financiamento do BNDES e empréstimos comerciais — foram alinhadas para apoiar o cronograma de testes e certificação.
Regulação e certificação: o papel da ANAC
Para que eVTOLs operem comercialmente no Brasil é necessária a definição de critérios de aeronavegabilidade, certificação de tipo e regras operacionais específicas. A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) publicou documentos e portarias iniciais com critérios e diretrizes para avaliar aeronaves desse tipo e propôs regras relativas a treinamento de pilotos e operações urbanas.
Esse arcabouço regulatório é essencial para que testes em áreas urbanas sejam autorizados e para que operações comerciais ocorram com segurança jurídica e técnica.
Prototipagem e testes no território nacional
Parte do desenvolvimento dos eVTOLs da Eve e de parceiros ocorreu em instalações brasileiras — incluindo fábricas e centros de testes — com protótipos em construção e planejamento de campanhas de ensaios de voo.
Testes em ambiente real, inclusive experimentos com tecnologias autônomas e de gerenciamento de tráfego, já foram conduzidos em cidades como o Rio de Janeiro, para avaliar comportamento em ambientes urbanos complexos. Essas atividades são passos críticos para demonstrar segurança e confiabilidade antes da certificação final.
Financiamento e mercado potencial
O desenvolvimento de eVTOLs requer investimentos significativos. A Eve divulgou captações e linhas de crédito, incluindo aportes do BNDES e empréstimos comerciais, que visam dar liquidez ao projeto enquanto a certificação e produção são concluídas. Relatórios de mercado mostram uma crescente carteira de intenções de compra por operadores e governos, o que cria um potencial comercial substancial caso os requisitos técnicos e regulatórios sejam cumpridos.
Infraestrutura necessária: vertiportos, manutenção e integração
Para funcionar em áreas urbanas, os eVTOLs exigirão vertiportos — plataformas de pouso e decolagem com suporte técnico, recarga elétrica, movimentação de passageiros e integração com modais terrestres.
A implantação de vertiportos envolve planejamento urbano, licenciamento municipal, conexão com transporte público e considerações de ruído, segurança e impacto visual. Além disso, será necessário preparar a cadeia de manutenção e peças sobressalentes para garantir disponibilidade operacional.
Impactos na mobilidade urbana e economia
Os benefícios potenciais incluem redução do tempo de deslocamento entre pontos críticos, descongestionamento de vias em trajetos de maior valor (por exemplo, entre centros financeiros, aeroportos e áreas residenciais de alto tráfego), e a criação de novos empregos em manufatura, operação e manutenção.
Por outro lado, existe o risco de que a tecnologia inicialmente beneficie apenas segmentos de alta renda, a menos que políticas e modelos de negócio busquem democratizar o acesso.
Segurança, ruído e aceitação pública
A segurança de voo é o requisito primordial. Os eVTOLs incorporam redundância em sistemas e controles, entretanto operar sobre áreas densamente povoadas exige regras estritas para manutenção, treinamento de equipes e procedimentos de emergência.
O ruído é outra preocupação: embora veículos elétricos tendam a ser mais silenciosos que helicópteros, o som de múltiplos rotores próximos ao solo pode afetar moradores; por isso, medições e critérios de emissões sonoras fazem parte das avaliações. A aceitação pública dependerá de transparência, educação e testes que mostrem baixa incidência de riscos e impacto negativo.
Quem são os possíveis primeiros usuários e rotas
Os primeiros usos comerciais provavelmente ocorrerão em rotas de alto valor onde o tempo é crítico: transferências para aeroportos, transporte executivo entre centros urbanos e eventos especiais.
Cidades com grandes congestionamentos — como São Paulo e Rio de Janeiro — figuram como candidatas naturais para rotas iniciais, desde que regulamentação local e infraestrutura estejam alinhadas. Operadores privados, empresas de táxi aéreo e serviços de turismo de alto valor podem ser os primeiros a adotar.
Desafios para massificação
Além do custo inicial alto dos veículos e da infraestrutura, há desafios na formação de uma cadeia de fornecedores local, no desenvolvimento de redes de recarga elétrica rápida, na padronização de vertiportos e na garantia de seguros e responsabilidades civis adequadas.
Outro aspecto é a integração no espaço aéreo já ocupado por drones, helicópteros e aviação geral, que exigirá sistemas robustos de gerenciamento de tráfego.
Sustentabilidade e emissões
A promessa dos eVTOLs é operar com propulsão elétrica, reduzindo emissões locais em comparação com veículos a combustão e helicópteros movidos a combustível fóssil.
Entretanto, a pegada de carbono real dependerá da matriz elétrica utilizada para recarga: se a eletricidade vier de fontes renováveis, o ganho ambiental será maior. A avaliação completa deve comparar ciclo de vida de fabricação, operação e descarte das baterias.
Previsões temporais e estágio esperado em 2025–2026
Com base em cronogramas públicos da indústria e anúncios oficiais, espera-se que os testes de protótipos e campanhas de certificação avancem ao longo de 2024–2026, com as primeiras operações comerciais restritas a rotas específicas possivelmente começando em meados da década, dependendo do progresso regulatório e de certificação.
Algumas estimativas e comunicados da própria Eve projetavam início de testes em 2025 e entrada em serviço comercial em 2026, embora estes prazos possam variar conforme resultados de testes e aprovação regulatória.
Como será a experiência do passageiro?
Viagens em eVTOLs devem priorizar rapidez, conforto e conveniência. Espera-se embarque em vertiportos com procedimentos semelhantes aos de um heliporto reduzido: conferência de documentos, procedimento de segurança simplificado e embarque rápido.
Aplicativos móveis permitirão reserva, check-in e integração tarifária com outros modais. Questões como tolerância a turbulência e movimentos verticais serão tratadas por desenvolvimento de design e treinamento de tripulação para garantir conforto.
Comparação com iniciativas internacionais
Países como Estados Unidos, China e nações europeias já têm projetos similares em estágios avançados e parcerias com operadores locais. O Brasil tem vantagens — indústria aeronáutica consolidada com a Embraer e conhecimento técnico —, mas precisa acelerar regulações e investimentos em infraestrutura para competir globalmente. A cooperação entre atores locais e parceiros estrangeiros é um caminho natural para transferência tecnológica e escala.
Perguntas frequentes (FAQ)
1. Quando o carro voador vai voar comercialmente no Brasil?
As projeções da indústria indicam voos de teste em 2024–2025 e início de operações comerciais restritas possivelmente a partir de 2026, dependendo da certificação e das aprovações regulatórias. Cronogramas podem mudar conforme resultados de testes e decisões da ANAC.
2. Será caro voar em um carro voador?
Inicialmente sim — os primeiros anos tendem a ter tarifas mais elevadas, voltadas a clientes corporativos, turismo de alto padrão e rotas premium. Com escala, políticas públicas e modelos de negócio inovadores, é possível reduzir preços, mas a massificação pode levar anos.
3. É seguro voar em eVTOLs?
Segurança é prioridade máxima. Projetos incluem redundância de sistemas, testes extensivos e requisitos regulatórios rigorosos. A certificação por autoridades como a ANAC depende da comprovação de níveis de segurança equivalentes ou superiores aos existentes.
4. Onde serão os vertiportos?
Vertiportos deverão ser implantados inicialmente em locais estratégicos: aeroportos, hospitais, áreas de negócios e zonas que demandem transporte rápido. A escolha depende de planejamento urbano, licenciamento e integração com a malha de transporte terrestre.
5. Os eVTOLs serão autônomos?
Atualmente o foco é em operações tripuladas com suporte crescente a sistemas de automação e assistência. Testes envolvendo tecnologias autônomas já foram conduzidos, mas a autonomia total em operações urbanas exigirá evolução regulatória e robustez tecnológica adicional.
6. O que o governo pode fazer para acelerar a adoção?
Políticas públicas úteis incluem definição clara de regras de certificação e operação, incentivos financeiros para infraestrutura, harmonização de leis municipais e federais, apoio à formação profissional e programas-piloto coordenados entre setor público e privado.
Em Resumo
O “carro voador no Brasil” está mais perto da realidade do que era há uma década. Com uma indústria aeronáutica consolidada, atores nacionais engajados e um ambiente regulatório em construção, o país tem condições técnicas para participar ativamente da revolução dos eVTOLs.
Ainda assim, desafios tecnológicos, econômicos, regulatórios e sociais precisam ser geridos cuidadosamente. Nos próximos anos veremos testes, certificações e as primeiras operações experimentais; se tudo caminhar bem, as cidades brasileiras poderão contar com novas opções de mobilidade que complementem, e não substituam, os sistemas de transporte existentes.
Para acompanhar as últimas notícias e comunicados oficiais das empresas envolvidas, consulte diretamente as páginas oficiais da indústria e das agências reguladoras.
Fontes selecionadas: comunicados oficiais da Eve Air Mobility e Embraer, reportagens da imprensa especializada e notas da ANAC e veículos internacionais.